terça-feira, 16 de setembro de 2008

aqui sim

pelo menos na capital mineira, em setembro chove.

minha relação com esse fenômeno vem de outra capital, uma parente próxima desta, a terra da garoa. como são recentes essas alterações no andamento do clima (poluição, aquecimento global, etc) a minha referência de chuva ainda é de algo demorado, pesado, arrasador.

mas mais uma vez tive a lição de refazer meus padrões (de que servem, afinal?), o que caí do céu aqui é diferente. um período definitivamente mais curto, breve. me traz outras impressões.

estava fazendo tanto calor ultimamente que já era um hábito dormir com a janela aberta, mesmo tendo um morcego como vizinho e que este poderia resolver me visitar sem convite, e também ainda persistia a onda quente mesmo com as poças sendo criadas lá fora. teimoso, resolvi ir dormir sem fecha-la, afinal não só o tal morcego, mas a dita água em queda também parecia respeitar minha vontade de continuar sozinho no quarto. mas para o caso de uma inversão eu teria, mesmo dormindo, que estar atento para não me encontrar com a cama molhada. rs, não, sem piadinhas com essa última, ok? então troquei de posição, dormindo nos pés dela e com a cabeça abaixo daquela que seria a entrada dos pingos rudes e rebeldes.

não durou muito isso não, não porque rolou o tal festival punk molhado na minha cabeça, mas porque a citada rebeldia atacou em outra frente, em cima de um carro qualquer da rua e disparando o alarme deste. foram longos momentos até sacar que continuaria assim, e o sono já estava vindo, na verdade indo e vindo sussetivamente, então era hora de fechar a quitanda (palavra engraçada), retomar a posição normal e chamar os sonhos garantida a segurança.

mas o que vale desse momento todo pré-descanso, foi que ali deitado olhando para lá fora (assumo que aguardando o motivo que me faria fechar a janela e dormir em paz), fiquei pensando na chuva.

chuva lembra limpeza, lavagem. o que era, agora depois dela não é mais. lembra das brincadeiras com barro no quintal? pois é, depois de um período de gotejamente ininterrupto, agora só barro sem forma. mas com memórias, não dele, mas nossas. chuva também me lembra pausa, o que se fazia antes teve que ser cortado e agora se faz outra coisa, ou só se pára. e esse hiato traz um silêncio.

tem gente que gosta de chuva, mas pergunta para quem foi pego de surpresa na rua, a caminho de algo em que chegará ensopado se ela gosta de chuva. pode esperar que você não ouvirá um "adoro!". a de são paulo eu não gostava, era sempre sinônimo de incômodo. choveu, fudeu. mas a de bh parece amena, menos caótica e mais harmônica, como quem pede passagem aludindo para algo melhor.

e sempre é bom ter a perspectiva real de que mudaremos. sem otimismos, só uma dose de poesia para colorir o que antes era cinzento. com a primavera por vir, o que não falta são cores por aqui.