Havia ali uma criança que sentia estar parada. Mas podia ela ter essa sensação já que estamos todos e todas em movimento, afinal nosso chão é a mãe Terra, não?
Sim, ela tinha certeza, imóvel estava. Aprendeu vendo aqueles e aquelas diferentes de si que era assim sua condição naquele momento. Se as outras e os outros corriam, pulavam, andavam em passos largos imitando avestruzes, se engatinhavam como os bebês fazem, tudo isso era diferente de como estava, e por isso entendia estar parada.
Movimento havia em seus olhos, profundos no buscar algo que não encontrava.
Veio uma borboleta e a fascinou. Levantou o braço que estava mais perto para servir de repouso para ela e assim, ter a criança uma vista duradoura enquanto fosse o descanso daquela. O encanto fiel não deve ter sido convidativo o suficiente para aquela beleza de asas que procuraram sossego em outro lugar. A nossa pequena não soube, apenas fez o seu juízo, mas o que realmente aquele inseto queria era sombra e daí o desinteresse pelo porto oferecido.
O sol ardia, provocava um ar seco e este inspirado parecia trazer farelo, areia. Nossa precoce heroina tinha esse incômodo e esperava que uma brisa úmida pudesse vir. Esta chegou, mas muito depois.
Bateu antes saudade. Quis um sorvete, como o que se deliciou uma vez. O sabor na memória era realmente prazeroso, mais até do que foi quando obtido. Aquela lembrança era de lambuzar, de fechar os olhinhos com força e de fazer surgir um completo sorriso no rosto, e no peito. Mas de repente essa alegria momentânea se esvaiu em um sopro forte, como aquele que damos quando queremos apagar as velas de um bolo, e veio o medo.
E se ela não tivesse tal experiência com outro sorvete de novo? Como poderia saber e evitar que viesse a tristeza com algo não igual ao que já teve uma vez, e que com certeza foi a melhor. Seus ombros murcharam e a cabeça pesou, inclinando-se para baixo. Foi aí que percebeu estar com um de seus sapatos com os cadarços desamarrados, abaixou-se para dar o laço e fez uma pausa.
Se estava parada, não carecia da segurança de amarrá-los, poderia deixar como estava. Mas ocorreu-lhe que seria mais bonito se o fizesse-se, pois assim aqueles que estavam largados como macarrão que passou do ponto, se abraçariam durante o ato e firmariam esse envolvimento com um nó bem dado. E esse gesto foi realizado, trazendo agora outra emoção para a criança.
Importante para nós, contar que durante esse ato de carinho com o seu calçado, em uma posição não muito segura, ela perdeu o equilíbrio e caiu e tão rápido retornou a sua posição para finalizar o que havia começado. Sequer foi cogitado, enquanto estava no chão, em ficar ali.
Em certo momento a alta temperatura estabeleceu habitação como a maior preocupação nos pensamentos da criança. Rapidamente o calor perdeu sua função de inquilino, uma nova e grande idéia foi recebida. Ela veio na companhia de um balão que vinha na direção da protagonista dessa estória.
Era de um vermelho intenso, brilhava de maneira única e viva, provocando um olhar gravemente apaixonado em sua direção. E ficava cada vez mais próximo, sendo que em determinado ponto foi possível perceber um cordão dourado amarrado nele, dava o efeito de uma calda de noiva, agregando um charme singelo ao já atraente objeto de formato oval.
Quando veio para perto, o esperado aconteceu. A criança segurou, sem amarrar-lhe, o balão pelo seu fio e deu o primeiro passo em direção de um novo rumo a ser trilhado por ela.
Assim foi desfeita aquela imobilidade narrada no início, sendo agora um fluxo particular, aberto a sorvetes com a possibilidade do que eles puderem oferecer e a borboletas que queiram um lugar calmo para descansar as asas, sendo elas merecedoras de admiração ou não.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
aqui sim
pelo menos na capital mineira, em setembro chove.
minha relação com esse fenômeno vem de outra capital, uma parente próxima desta, a terra da garoa. como são recentes essas alterações no andamento do clima (poluição, aquecimento global, etc) a minha referência de chuva ainda é de algo demorado, pesado, arrasador.
mas mais uma vez tive a lição de refazer meus padrões (de que servem, afinal?), o que caí do céu aqui é diferente. um período definitivamente mais curto, breve. me traz outras impressões.
estava fazendo tanto calor ultimamente que já era um hábito dormir com a janela aberta, mesmo tendo um morcego como vizinho e que este poderia resolver me visitar sem convite, e também ainda persistia a onda quente mesmo com as poças sendo criadas lá fora. teimoso, resolvi ir dormir sem fecha-la, afinal não só o tal morcego, mas a dita água em queda também parecia respeitar minha vontade de continuar sozinho no quarto. mas para o caso de uma inversão eu teria, mesmo dormindo, que estar atento para não me encontrar com a cama molhada. rs, não, sem piadinhas com essa última, ok? então troquei de posição, dormindo nos pés dela e com a cabeça abaixo daquela que seria a entrada dos pingos rudes e rebeldes.
não durou muito isso não, não porque rolou o tal festival punk molhado na minha cabeça, mas porque a citada rebeldia atacou em outra frente, em cima de um carro qualquer da rua e disparando o alarme deste. foram longos momentos até sacar que continuaria assim, e o sono já estava vindo, na verdade indo e vindo sussetivamente, então era hora de fechar a quitanda (palavra engraçada), retomar a posição normal e chamar os sonhos garantida a segurança.
mas o que vale desse momento todo pré-descanso, foi que ali deitado olhando para lá fora (assumo que aguardando o motivo que me faria fechar a janela e dormir em paz), fiquei pensando na chuva.
chuva lembra limpeza, lavagem. o que era, agora depois dela não é mais. lembra das brincadeiras com barro no quintal? pois é, depois de um período de gotejamente ininterrupto, agora só barro sem forma. mas com memórias, não dele, mas nossas. chuva também me lembra pausa, o que se fazia antes teve que ser cortado e agora se faz outra coisa, ou só se pára. e esse hiato traz um silêncio.
tem gente que gosta de chuva, mas pergunta para quem foi pego de surpresa na rua, a caminho de algo em que chegará ensopado se ela gosta de chuva. pode esperar que você não ouvirá um "adoro!". a de são paulo eu não gostava, era sempre sinônimo de incômodo. choveu, fudeu. mas a de bh parece amena, menos caótica e mais harmônica, como quem pede passagem aludindo para algo melhor.
e sempre é bom ter a perspectiva real de que mudaremos. sem otimismos, só uma dose de poesia para colorir o que antes era cinzento. com a primavera por vir, o que não falta são cores por aqui.
minha relação com esse fenômeno vem de outra capital, uma parente próxima desta, a terra da garoa. como são recentes essas alterações no andamento do clima (poluição, aquecimento global, etc) a minha referência de chuva ainda é de algo demorado, pesado, arrasador.
mas mais uma vez tive a lição de refazer meus padrões (de que servem, afinal?), o que caí do céu aqui é diferente. um período definitivamente mais curto, breve. me traz outras impressões.
estava fazendo tanto calor ultimamente que já era um hábito dormir com a janela aberta, mesmo tendo um morcego como vizinho e que este poderia resolver me visitar sem convite, e também ainda persistia a onda quente mesmo com as poças sendo criadas lá fora. teimoso, resolvi ir dormir sem fecha-la, afinal não só o tal morcego, mas a dita água em queda também parecia respeitar minha vontade de continuar sozinho no quarto. mas para o caso de uma inversão eu teria, mesmo dormindo, que estar atento para não me encontrar com a cama molhada. rs, não, sem piadinhas com essa última, ok? então troquei de posição, dormindo nos pés dela e com a cabeça abaixo daquela que seria a entrada dos pingos rudes e rebeldes.
não durou muito isso não, não porque rolou o tal festival punk molhado na minha cabeça, mas porque a citada rebeldia atacou em outra frente, em cima de um carro qualquer da rua e disparando o alarme deste. foram longos momentos até sacar que continuaria assim, e o sono já estava vindo, na verdade indo e vindo sussetivamente, então era hora de fechar a quitanda (palavra engraçada), retomar a posição normal e chamar os sonhos garantida a segurança.
mas o que vale desse momento todo pré-descanso, foi que ali deitado olhando para lá fora (assumo que aguardando o motivo que me faria fechar a janela e dormir em paz), fiquei pensando na chuva.
chuva lembra limpeza, lavagem. o que era, agora depois dela não é mais. lembra das brincadeiras com barro no quintal? pois é, depois de um período de gotejamente ininterrupto, agora só barro sem forma. mas com memórias, não dele, mas nossas. chuva também me lembra pausa, o que se fazia antes teve que ser cortado e agora se faz outra coisa, ou só se pára. e esse hiato traz um silêncio.
tem gente que gosta de chuva, mas pergunta para quem foi pego de surpresa na rua, a caminho de algo em que chegará ensopado se ela gosta de chuva. pode esperar que você não ouvirá um "adoro!". a de são paulo eu não gostava, era sempre sinônimo de incômodo. choveu, fudeu. mas a de bh parece amena, menos caótica e mais harmônica, como quem pede passagem aludindo para algo melhor.
e sempre é bom ter a perspectiva real de que mudaremos. sem otimismos, só uma dose de poesia para colorir o que antes era cinzento. com a primavera por vir, o que não falta são cores por aqui.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
mudança
por que a gnt muda?
pra buscar sentido qdo não se tem? pra sair do incômodo, seja ele um estado ou um meio? pra ter (novamente) fôlego? por que já não damos mais conta do momento? por que as outras e os outros o estão fazendo?
no meu caso rolou uma perspectiva, um movimento, de que a mudança - q geralmente e socialmente (rs...), é para algo melhor - viria a calhar. tenho uma mania de fazer as novas idéias capazes de justificarem tudo, como uma verdade cristalina e viva.
meu barco estava por boiar, assim, sem (ver) propósito, com dificuldade de fincar âncora, definir rumo. até os remos não já não tinham mais serventia, nem decorativa. e para alguém que se entende como capitão, vagar num fluxo externo era um contexto que carecia da tal mudança.
no fundo, as águas são todas as mesmas, o q as difere é o ritmo. e a impressão era de q a correnteza daqui seria mais afetiva, confortável, de temperatura morna. passado um verão, digo q aqui meu barco segue.
fico na dúvida se os remos, de tanto desuso, agora não mais serão operados com o vigor de antes, muito antes de toda essa conversa.
boiar já não é mais o verbo praticado, bom, as vezes sim, mas só as vezes. enquanto me conflituo com os remos, arrumei uma vela e dei sorte de aqui bater um vento que tira a gnt do lugar. faz sol também.
falando em mudança, não podia deixar de contar q a minha ocorreu sem mto plano. ficaram para trás coisas importantes e assumo que me deixo levar pela vela içada e não avalio o saldo dessas perdas e se as deixarei como perdas, afinal, ainda pode haver tempo de revê-las. dito isto, há de ser inclúido nas tarefas do marinheiro (capitão não é posto para mim no momento) alguma estratégia de resgate. pensarei nisso enquanto olho as estrelas antes de dormir.
sigo bem, com saúde, sorrisos, belezas, tropeços (na água também tropeçamos), e saudade. em breve mandarei mais notícias, assim q aportar em algum ponto. fiquem bem e contem com um retorno meu. abraços
não tinha como começar de outra maneira
pra buscar sentido qdo não se tem? pra sair do incômodo, seja ele um estado ou um meio? pra ter (novamente) fôlego? por que já não damos mais conta do momento? por que as outras e os outros o estão fazendo?
no meu caso rolou uma perspectiva, um movimento, de que a mudança - q geralmente e socialmente (rs...), é para algo melhor - viria a calhar. tenho uma mania de fazer as novas idéias capazes de justificarem tudo, como uma verdade cristalina e viva.
meu barco estava por boiar, assim, sem (ver) propósito, com dificuldade de fincar âncora, definir rumo. até os remos não já não tinham mais serventia, nem decorativa. e para alguém que se entende como capitão, vagar num fluxo externo era um contexto que carecia da tal mudança.
no fundo, as águas são todas as mesmas, o q as difere é o ritmo. e a impressão era de q a correnteza daqui seria mais afetiva, confortável, de temperatura morna. passado um verão, digo q aqui meu barco segue.
fico na dúvida se os remos, de tanto desuso, agora não mais serão operados com o vigor de antes, muito antes de toda essa conversa.
boiar já não é mais o verbo praticado, bom, as vezes sim, mas só as vezes. enquanto me conflituo com os remos, arrumei uma vela e dei sorte de aqui bater um vento que tira a gnt do lugar. faz sol também.
falando em mudança, não podia deixar de contar q a minha ocorreu sem mto plano. ficaram para trás coisas importantes e assumo que me deixo levar pela vela içada e não avalio o saldo dessas perdas e se as deixarei como perdas, afinal, ainda pode haver tempo de revê-las. dito isto, há de ser inclúido nas tarefas do marinheiro (capitão não é posto para mim no momento) alguma estratégia de resgate. pensarei nisso enquanto olho as estrelas antes de dormir.
sigo bem, com saúde, sorrisos, belezas, tropeços (na água também tropeçamos), e saudade. em breve mandarei mais notícias, assim q aportar em algum ponto. fiquem bem e contem com um retorno meu. abraços
não tinha como começar de outra maneira
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